domingo, 7 de junho de 2009

Silêncio


Ssssss
Longe, muito longe, ouço o som de uma cidade em movimento. Táxis amarelos, luzes apagadas que dormem sonos irreais e apressados de quem tem a responsabilidade de acordar e de se manter acordado. Os pneus no piso molhado arrastam a água que se afasta nos frisos do pneu e garante a aderência de quem quer flutuar. Prédios magnânimes, altos.
Percorro as ruas sem encontrar vivalma, vejo montras iluminadas para quem passa, luzes que cegam do outro lado da estrada. Semáforos, numa sequência amarela. A cidade dorme, a cidade está calada.
Percorro quilómetros no sono que me relaxa e me leva a outros caminhos. Puxo os lençóis involuntariamente para mim e aconchego-me no silêncio de uma cama quente e confortável.
Volto à cidade. Continua calma. Continuo a viajar no táxi do tempo, sem destino, sem taxímetro. Vejo putas na estrada, papéis e cartão em vãos de escada que dizem que alguém dorme ali e vejo também alguém a cambalear entre um grupo de jovens que se ri de forma extravagante. O silêncio foi perturbado. Que bom que é estar confortável no banco de trás deste táxi.
Continuo.
Fxxxxxxxxxx...os pneus na estrada, silêncio de novo. A cidade está morta e enterrada na escuridão que os médios conseguem desvendar. Pela janela não vejo nada. Vultos. Pessoas não devem ser. Edifícios. Multidões indigentes, na escuridão. Cegas caminham aleatoriamente. A segurança do carro. Feliz de mim. O táxi parou. Devia sair. Mas não. Não quero. O medo do escuro, do que vou encontrar nas sombras.
Revolto nos lençóis confortáveis. Toco em ti. Sinto-te quente, a tua pele macia. Aproximo-me de ti e ouço no silêncio que me aflige o bater do teu coração. Constante. Vais estar sempre aqui, não vais? Sei que sim porque preciso de ti
Fxxxxxxxx....o táxi voltou a andar.
Para onde é a ida? Pergunta a tua voz quebrando o silêncio, enquanto vejo os teus olhos pelo retrovisor. O rádio tocava baixinho Blue Boys Tune do BB King.
Para onde quiser.
Para onde me levares.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ja fazia falta parar pa pensar e quando nao tinha mais o que fazer vir até aqui e pensar no que escreves.. escrever liberta nao so pa quem o faz! Funciona como terapia. :)

Diogo Garcez Gonçalves disse...

É um prazer para mim ler o que alguém escreve e saber que há alguém que até passa por aqui e entende o que quero dizer e fazer: libertar, fazer uma terapia emocional a quem escreve e a quem lê. Pelo menos aqui todos são livres e todas as ideias são válidas.