segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Discussão sobre o encerramento de escolas e ensino

Prestes a entrar em novo ano curricular muitas das escolas nacionais vão ser encerradas.
Ora, esta situação pode suscitar (e deve) uma discussão interna sobre o futuro dos jovens e do ensino português. E digo que deve pois é elementar que estamos num ponto de viragem, um ponto que se prolonga há muitos anos e parece ainda não ter consenso nem a nível político quanto mais entre estudantes e professores.
Pessoalmente acho que é uma medida com muitos contras e poucos pontos favoráveis. Quanto ao argumento de se estar a adiar o inevitável de uma desertificação do interior do país, nem vou elaborar muito, porque quem diz isso vai morrer e vai, porquê deixar de adiar o inevitável e não se matar já poupando o trabalho a muitos médicos e enfermeiros, despesas ao Serviço Nacional de Saúde e desde logo o trabalho de os ouvirmos?
Eventualmente, podem achar que não sou ninguém para estar aqui a falar sobre este assunto, mas pelo menos tenho uma noção do que falo, já que sou estudante, enquanto outros dizem que foram mas dúvidas surgem, e outros da parca educação que tiveram obtiveram um canudo que lhes permitiu subir degraus na escada do poder e dirigir este país, apoiando-se nos ombros e não sei que mais dos outros de forma pouco digna.
Sendo militante do PS, sim sou, discordo da forma com está a ser conduzido o ensino do país. Primeiro a questão dos alunos não reprovarem. Como é que um aluno sem conhecimentos pode avançar para um ano superior? Não me venham com termos psicológicos de falta de motivação. Reprovando uma vez na vida uma pessoa normal tende a nunca mais o querer repetir e se o repete é porque tem reais dificuldades. Falhar é um processo natural da vida e aprende-se muito mais com isso do que com um passar de ano pela porta das traseiras. Para mim isto nem devia ser motivo de discussão, pois ir buscar exemplos deste método a países mais desenvolvidos é no mínimo de mau gosto, até porque são realidades distintas.
Segundo, cortes na educação e até na cultura. A mesquinhez política, e económica não tem limite neste capítulo negro da nossa economia. Somos um dos países mais atrasados da EU em termos de conhecimento e formação de pessoal, no entanto encavalitámo-nos e empinámos o nariz comparando-nos nas estimativas a uma França ou Espanha. Somos pobres não só economicamente, mais muito mais pobres de mente. Invistam na formação e uma nova geração de pessoas formadas e bem formadas irá aparecer. Não estou só a dizer dinheiro, porque nem só de dinheiro se faz a formação, ou Magalhães, invistam recursos humanos, recursos! Sem ovos não se fazem omeletas.
Terceiro. Formação profissional. A formação profissional é de facto útil, no entanto a forma como está a ser dirigida é de facto desastrosa. Poucos são aqueles que saem de um curso profissional a saber fazer alguma coisa. E aqui tenho profundo conhecimento de causa. Não inventem desculpas, o ensino profissional deve habilitar pessoas a trabalhar acabada a escolaridade. Trabalhar! Coisa que não acontece na maioria dos casos e só quem tem muita força de vontade o consegue.
Quarto, as novas oportunidades. É mais que evidente que esta situação foi criada e bem para dar emprego a 10000 professores desempregados. Gastaram-se milhões numa tentativa de fazer subir Portugal no ranking da escolaridade, mas infelizmente, o grau escolar não corresponde a conhecimento e muito poucas foram as pessoas que aproveitaram realmente esta “nova oportunidade”. Até porque os graus de exigência são mínimos, o grau de conhecimento dos próprios professores limitado e…basicamente não se aprende nada. Ponto. Qualquer pessoa hoje tem o 12ºano sem saber uma palavra de inglês ou nunca ter mexido num computador: analfabetos do século XXI. Isto tirado em 2 ou 3 meses enquanto um aluno normal pena durante 3 anos para fazer o 12ºano. Ora isto leva desde logo a uma descrença e desilusão por parte dos já desacreditados alunos que frequentam o ensino “normal”.
Quinto e o mais importante neste momento, porque de medidas passadas e de passado não se vive senão ainda agora éramos um Império magnífico de ouro e especiarias à beira mar plantado: o encerramento de escolas. Encerram-se escolas com poucos alunos, obrigando alguns a fazer dezenas de quilómetros todos os dias. Mas constroem-se outras com melhores condições e aquecimento central e outros recursos. Dá-mos calor às crianças através do aquecimento, e privámos as crianças do calor humano que é tão melhor e 1000 vezes mais importante que esse calor mecânico.
Misturámos toda a gente. Criámos um aglomerado de pessoas, que precisam de atenções especiais e contacto com adultos, pessoas individuais, que passam a ser indistintos e números numa pauta anual muito subjectiva.
Se isto fosse melhorar a condição económica e social até se compreendia. Juntando as maçãs podres às boas elas acabam por ficar boas. Isto nunca acontece! Quando muito essas maçãs no meio de muitas outras boas poderiam não estragar tanto.
Está mais que visto que os fenómenos de grupo podem ser horríveis e não vale a pena arriscar uma geração inteira em experiências deste género que se propagam desde o 25 de Abril.
Se o investimento nestas novas escolas fosse direccionado para a reabilitação das nossas lindíssimas escolas, emprego de professores, e posterior reabilitação de algumas zonas do interior, até porque conheço casos em que isto já foi feito e agora se deita dinheiro fora, podíamos ter um ensino mais humano, mais singular e pessoal, melhor para as crianças.
Mais não digo. Estou irritado e sem paciência para a falta de visão política e falta de conhecimento de campo, de ministros e ministérios.

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