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Quando pelo olho da porta vi que era Zoe e Pierre abri a porta. Estavam ambos molhados.
- Então que se passa? De volta? - perguntei.
- Sim, perdi as chaves e não consegui entrar em casa. - respondeu Zoe a coçar a cabeça de forma embaraçada.
- Vá entrem. Não há problema. - insisti.
- Peço desculpa, mas decidi acompanhar a Zoe. - disse Pierre.
- Não há problema Pierre, dormes aqui, há sempre lugar para mais um.
- De certeza que não há problema? Ficava extremamente grato.
- Claro Pierre. Mi casa es tu casa. Fica à vontade. - Abri eu os braços de forma convidativa.
Como já eram três da manha encarreguei-me de acomodar toda a gente em casa. Como cavalheiros que tanto eu como Pierre éramos, Zoe ficou com a minha cama e eu e Pierre sorteámos o sofá e a alcatifa calhando-me a mim a alcatifa. No entanto se calhar a sorte seria mais minha já que o sofá além de pequeno era bastante mole e provocava dores por todo o corpo. Pierre de manhã diria alguma coisa, naquele momento era hora de dormir.
Zoe fechou a porta do quarto e eu e Pierre acomodámo-nos a dormir com algum embaraço mas, lá apagámos a luz e entre boas noites deitámo-nos. Pela porta do meu quarto via que a luz no meu quarto ainda estava acesa. Não me preocupei, as mulheres têm rituais de beleza muito estranhos não é verdade? Zoe não devia ser excepção.
Entretanto a Dacia tinha ficado na sala a dormir, e por ali ficou sem se incomodar com o nosso ressonar. Estaria cansada certamente e até aquecia a sala o que era bom.
Obviamente não me sentia muito confortável na alcatifa mas a noção de que estava junto ao chão e aquele cheiro do tapete amaciava os sentidos e puxava o sono.
Estava ensonado, mas ao mesmo tempo excitado, Zoe nunca dormira ali, na minha casa, e sejámos sinceros, como eu gostava de a abraçar e de estar do outro lado daquela porta. Bastava deitar-me ao lado dela ou até ficar a olhá-la enquanto dormia, tudo isso era suficiente, no entanto ali estava eu derrotado, deitado numa alcatifa,... se pelo menos Pierre não estivesse ali juro que ia falar com ela.
Bem, por meio de voltas e voltas lá tentei adormecer. De repente lembrei-me das cartas e que me tinha esquecido de tratar do que quer que fosse sobre as mesmas, apetecia-me ler o seu conteúdo, mas também já não era altura para isso. Era altura de dormir.
No entanto mesmo naquele momento de passagem pelas brasas, passaram-me pela cabeça imagens cinzentas, sons estranhos como zumbidos e gritos, arrepios, coisas loucas que não percebi, cubos e cones, dentro de cilindros, letras escritas noutros alfabetos, outros dialectos,...uma míriade de coisas que nunca me assolavam estes pré-sonhos.
Andei ali às voltas e a última vez que me lembrei de ver o relógio de parede parcamente iluminado por uma frincha na janela ele marcava 4 e 25 da manhã.
Devo ter adormecido por volta dessa hora.
De repente, não sei que horas eram, mas parecia que tinha adormecido há 5 minutos senti uma mão quente tocar-me na barriga. Com olhos fechados pensei que era um sonho, mas não. Lentamente fui abrindo os olhos e focando na figura que tinha à minha frente. Era Zoe.
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