domingo, 18 de julho de 2010

O começo - XIV

Não bati à porta depois de subir as escadas. Não se ouvia barulho e não queria acordar ninguém porque até a Zoe já devia estar a dormir, parecendo que não demorámos ainda uma meia hora, isto porque viemos ao ritmo de Dora se não demorávamos eventualmente o dobro.
Entrei e vi pela luz da janela que estava tudo bem. Pierre na posição igual à de quando saí, a Dacia acordada a olhar para mim mas sem fazer barulho e a luz no quarto de Zoe acesa.
- Ela está no meu quarto, vai ter com ela. – indiquei a Dora com o dedo sussurando.
- No teu quarto? Vocês...ahem? – perguntou ela de olho franzido gesticulando algo que eu não conseguia ver no escuro.
- Não, não, só que é mais confortável para ela. Percebeste mal, como ela estava cá e não...
- Sim...claro... – ironizou ela.
- A sério! Achas que eu...
- Não acho nada, mal te conheço. Aliás não tenho nada que achar, a vida é vossa. – sorriu ela interrompendo-me e pondo me a mão na cabeça quase para me acalmar.
Virou-se e dirigiu-se para a porta que começou a abrir devagar enquanto eu já me aprontava para dormir de novo no meu colchão improvisado. De repente:
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! – um grito extridente.
Levantei-me rapidamente e como estava de cócoras cambaleei até bater numa cadeira e deitei-a ao chão com grande estrondo. A Dacia ladrava espantada e só vi, depois de ouvir um estrondo, o Pierre no chão enrolado no lençol completamente cheio de sono e terrivelmente mal tratado por aquele acordar repentino.
- Dora! Maninha!
- Ahhhh! Zoe! Estás magra...hum jeitosa...que é que tens andado a fazer?...
- E tu? Estás um palito! Cada vez mais gira. - falavam elas num tom agudo e rápido.
Eu e o Pierre olhámos um para o outro e ele sem perceber nada perguntou em francês que se passava. Limitei-me a rir e encolher os ombros e disse:
- Dorme, amanhã falámos...
Enrolei-me de novo no lençol mal amanhado e ouvi o Pierre a rezingar, eventualmente a condenar a situação e a falar a linguagem universal que toda a gente percebe.
Continuava-se a ouvir sussuros abafados e risos de cumplicidade. De repente uma luz desceu sobre elas:
- Se calhar fizemos barulho a mais... – ouvi Zoe dizer.
- Desculpem rapazes! – gritaram elas em uníssono rindo-se depois.
A Dacia nem se mexeu e eu e o Pierre só nos limitámos a murmurar qualquer coisa como um assentimento chateado e aborrecido. Finalmente ia dormir descansado.

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