Voltei a Tóquio depois de alguns anos sem lá estar.
As ruas eram as mesmas e as luzes tinham a mesma cor vistas do céu, mas o sentimento era outro.
Tinha acabado de ver um pouco de um filme no avião, pareceu-me algo do género Casablanca, mas como não estava com atenção não consegui dislumbrar o título ou alguém conhecido no filme.
O tempo estava húmido quando saí do avião e o sol já se tinha posto, na hora local eram cerca de dez da noite. Uma chuva miúda pingava-me no cabelo e nos ombros do casaco.
Só levava uma mala e uma mochila às costas e era fácil deslocar-me na imensidão do aeroporto cheio de gente devido aos voos atrasados ou aos que estavam para partir e via o desespero de quem tinha perdido a oportunidade de uma vida num ligeiro atraso. Vi mães a chorarem, abraços e sorrisos, pessoas devastadas vá-se lá saber porquê.
Saí incomodado pelo cenário multicultural e multisentimental. Cá fora apanhei um táxi verde com umas listas amarelas já antigas, o condutor percebeu os meus parcos recursos linguísticos na situação e teve mesmo que ser em inglês, que ele percebeu ou não estaria neste quarto a escrever.
Depois de apanhar o táxi passámos pelas estradas apinhadas de carros e gente que passeava apressada. Demorámos cerca de uma hora a chegar. Enfim, Shinjuku. A Times Square japonesa. Fiquei ali parado no passeio a ver o tráfico passar. O mundo a esvair-se. Embora parado ninguém me tocou mesmo com toda aquela confusão. Azul, amarelo, vermelho forte, magoava os olhos. Ruído, buzinas, roncos e fumo. Chuva fria e cheiros variados. Completamente soterrado pela imensidão de espaço que era pouco e a altura do cimento que me rodeava.
As luzes, a cor, o movimento, tudo era novo, tudo era muito para lá de Casablanca, já nada era Yojimbo, no entanto conseguia-se ver ali as raízes de algo muito melhor que foi sendo afogado por cimento e alcatrão, mas estava lá, na forma como ninguém me tocava e se via pessoas a cumprimentarem-se de uma forma tão respeitosa e diferente do mundo ocidental em que vivo.
Neste momento vejo Shinjuku panoramicamente, e é tão dolorasamente belo. Tanto sacrifício, tanta humanidade, tanta civilização, no entanto tão pouco comparado com o magnífico monte Fuji iluminado por esta Lua linda que ilumina o céu e tudo o resto no meu campo de visão.
Mas sinto uma nostalgia tão grande. Não me perguntem porquê, tudo está diferente, as pessoas não são as mesmas e se elas não são, nada é. Os momentos são outros.
Mas mesmo antes de entrar aqui no hotel, encontrei Komano, um senhor que tinha um quiosque simpático com as revistas que costumava ler no cantinho da rua e que conhecia da minha última estada. Em inglês perguntei como estava. Sabem o que me respondeu? Eu digo. Respondeu que estava bem como sempre e que nada tinha mudado.
Mas não, tudo tinha mudado.
As ruas eram as mesmas e as luzes tinham a mesma cor vistas do céu, mas o sentimento era outro.
Tinha acabado de ver um pouco de um filme no avião, pareceu-me algo do género Casablanca, mas como não estava com atenção não consegui dislumbrar o título ou alguém conhecido no filme.
O tempo estava húmido quando saí do avião e o sol já se tinha posto, na hora local eram cerca de dez da noite. Uma chuva miúda pingava-me no cabelo e nos ombros do casaco.
Só levava uma mala e uma mochila às costas e era fácil deslocar-me na imensidão do aeroporto cheio de gente devido aos voos atrasados ou aos que estavam para partir e via o desespero de quem tinha perdido a oportunidade de uma vida num ligeiro atraso. Vi mães a chorarem, abraços e sorrisos, pessoas devastadas vá-se lá saber porquê.
Saí incomodado pelo cenário multicultural e multisentimental. Cá fora apanhei um táxi verde com umas listas amarelas já antigas, o condutor percebeu os meus parcos recursos linguísticos na situação e teve mesmo que ser em inglês, que ele percebeu ou não estaria neste quarto a escrever.
Depois de apanhar o táxi passámos pelas estradas apinhadas de carros e gente que passeava apressada. Demorámos cerca de uma hora a chegar. Enfim, Shinjuku. A Times Square japonesa. Fiquei ali parado no passeio a ver o tráfico passar. O mundo a esvair-se. Embora parado ninguém me tocou mesmo com toda aquela confusão. Azul, amarelo, vermelho forte, magoava os olhos. Ruído, buzinas, roncos e fumo. Chuva fria e cheiros variados. Completamente soterrado pela imensidão de espaço que era pouco e a altura do cimento que me rodeava.
As luzes, a cor, o movimento, tudo era novo, tudo era muito para lá de Casablanca, já nada era Yojimbo, no entanto conseguia-se ver ali as raízes de algo muito melhor que foi sendo afogado por cimento e alcatrão, mas estava lá, na forma como ninguém me tocava e se via pessoas a cumprimentarem-se de uma forma tão respeitosa e diferente do mundo ocidental em que vivo.
Neste momento vejo Shinjuku panoramicamente, e é tão dolorasamente belo. Tanto sacrifício, tanta humanidade, tanta civilização, no entanto tão pouco comparado com o magnífico monte Fuji iluminado por esta Lua linda que ilumina o céu e tudo o resto no meu campo de visão.
Mas sinto uma nostalgia tão grande. Não me perguntem porquê, tudo está diferente, as pessoas não são as mesmas e se elas não são, nada é. Os momentos são outros.
Mas mesmo antes de entrar aqui no hotel, encontrei Komano, um senhor que tinha um quiosque simpático com as revistas que costumava ler no cantinho da rua e que conhecia da minha última estada. Em inglês perguntei como estava. Sabem o que me respondeu? Eu digo. Respondeu que estava bem como sempre e que nada tinha mudado.
Mas não, tudo tinha mudado.
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