sábado, 17 de julho de 2010

Escrever de forma simples

Sou um defensor acérrimo de que a escrita deve ser pouco floreada e totalmente acessível na maiorias dos casos, essencialmente naqueles em que o texto é de ordem informativa.
Por vezes isso sujeita a interpretações diversas, mas não menos interpretações do que uma linguagem lírica nos acaba por levar.
Quando conhecemos alguém que se está a iniciar numa obra escrita, existe uma certa tedência em se tentar afirmar por palavras caras e temas que chamem a atenção, no entanto muitas vezes não percebem que o mais trivial dos assuntos e a linguagem mais básica são o que realmente interessa à pessoa comum, veja-se por exemplo o caso de American Splendor de Harvey Lawrence Pekar, alguém que transforma a banal e desinteressante vida de um bibliotecário em algo digno de registo e de história.
É certo que este senhor nunca foi reconhecido como uma celebridade e comeu o pão que o diabo amassou, no entanto, pelo menos assim parece, fazia tudo isto por gosto e acabou por se tornar uma lenda urbana, obtendo independência artística muito depois de ter começado a relatar o ram ram da sua vida em desenhos que não sabia desenhar.
O que eu quero aqui explicitar é que me irrita profundamente o novo intelectual de trazer por casa, que escreve de forma elegantérrima sem dizer muito à comum pessoa e ainda menos às pessoas que procuram informação. Isto passa-se essencialmente no novo jornalismo que por aí anda nas ruas da amargura perdido pela Internet e pelo papel sem que ninguém saiba o futuro e se alguém quiser ver o que se passa, por favor que vá a um qualquer jornal regional ou até mesmo nacional e veja uma crónica ou outra escrita por cronistas que pouco mais têm do que o papo inchado e uma necessidade de afirmação, talvez para terem um ganha pão e por isso não os culpo.
Penso no entanto que existe uma certa necessidade de abandonar este tipo de escrita, pelo menos nos meios de comunicação escrita. As notícias tendem a não ser claras e a levar a várias interpretações. Já se sabe também que os caminhos difíceis da escrita levam a uma facilidade de erros enorme e é isso que acontece muitas vezes.
Atenção no entanto que não estou a criar um estereótipo, cronistas brilhantes existem por aí, mas são limpos e claros na escrita, quem lê Folhas Políticas ou um mais antigo Farpas, sabe o que está a ler mesmo no meio de sarcasmo e figuras de estilo pouco convencionais. Quem lê o Público por exemplo ou noutro registo um Diário Económico sabe o que está a ler, já um Jornal de Notícias ou um qualquer regional tem tendência a cair no ridículo da adjectivação, enumeração, sinédoques e metáforas excessivas isto nas crónicas que é o que mais leio porque o resto das notícias tende a ser realmente desinteressante...
A língua portuguesa é imensamente rica, não haja qualquer dúvida, e deve ser bem tratada, só que a meu ver, cada vez as pessoas a tratam pior porque não têm a experiência. Demasiado inglês, televisão e Internet cheia de erros. Eu próprio me incluo aqui e não passo maior atestado de estupidez a outra pessoa do que passo a mim, mas a realidade é que muito se escreve e desse muito, quase todo tem pouca qualidade.
Ora, resumindo, quem não tem experiência, eu inclusivé, deve-se manter pelo português a que eu chamo seguro, sem dar asas a interpretações líricas, e só deve assumir publicamente, em jornais ou revistas, as suas brincadeiras escritas quando está muito seguro daquilo que escreve e daquilo que consegue transmitir. Isto dos blogs é uma mera brincadeira portanto não me levem a mal aqueles que eventualmente pensarem que estou a elevar-me a um nível superior. Comecei a aprender a escrever hoje e amanhã vou morrer sem aprender. Mas quem ficar irritado é porque lhe serve a carapuça e aí é porque este texto tem alguma coerência. Ou não. Fica a vosso cargo.

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