domingo, 22 de agosto de 2010

Arbil, o novo Iraque

No Iraque, a meio gás, agora com a retirada do último pelotão de combate norte-americano e depois de um atentado num centro de recrutamento que provocou a morte de várias dezenas de pessoas e feridos, ouvem-se notícias animadoras.
Nunca percebi, assim como a maioria das pessoas o porquê desta guerra despropositada. Ouvi no entanto e li várias opiniões. A primeira, e a razão oficial, armas químicas supostamente debaixo do controlo de Saddam Hussein, a segunda apregoada pela maioria das pessoas, o desejo de controlo da indústria petrolífera no médio Oriente pelos Estados Unidos. Há ainda terceiras e quartas, que passam pelo estabelecimento de uma democracia no seio da nação islâmica, ou até mesmo o estabelecimento de uma rampa de lançamento militar para eventuais confrontos nesta zona do mundo que fervilha na dicotomia entre diplomacia e belicidade.
É no entanto mais que evidente, que um dos resultados desta invasão é a ocidentalização de pessoas e instituições iraquianas. Chamar-lhe-ei invasão, porque a morte dos mais de 4000 soldados americanos, ainda que seja um facto a registar, não pode ser considerada uma guerra e sim, quase uma invasão pacífica. Lembrem-se que não houve uma defesa organizada à chegada norte-americana por parte de Saddam. Não houve relatos de exércitos comandados com táctica, caças ficaram no chão por falta de pilotos, eventualmente desertores e graças a uma demonstração de poder americano, mais que evidente e real, eventuais defesas que pudessem existir limitaram-se a ser recolhidas numa mera bolha terrorista que continua a assolar o país mas sem ter colocado, ou colocar em causa esta invasão.
Mas, esta ocidentalização começa a dar frutos. Embora pequenos grupos terroristas continuem a actuar e a matar inadvertidamente um alvo específico por cada dez inocentes, provocando repúdio em centenas de famílias que até apoiariam a sua causa, num gesto meramente para chamar a atenção, já que são grupos pequenos, reaccionários e desorganizados, o Iraque começa a avançar politicamente e socialmente.
Do ponto de vista económico, muitas leis ainda estão para ser aprovadas quanto à extracção do petróleo e os pedidos de concessão acumulam-se, no entanto, nos próximos anos, impulsionados pelo petróleo à flor do solo iraquiano, a economia iraquiana terá em perspectiva uma superioridade comercial em relação aos seus vizinhos.
Do ponto de vista social, as forças armadas iraquianas, em instrução por parte de forças policiais e militares americanas e de outros países europeus, podem repôr a ordem e estabilizar cidades como Bassorá e Bagdad que embora não se encontrem a ferro e fogo ainda não são exemplo de organização.
Politicamente, existem eleições, governo e orgãos administrativos. Não estou propriamente a par da legalidade, ou do comportamento destas instituições e limito-me a ler e a obter informação de orgãos sociais ocidentais, que muitas vezes têm tendência a subverter e a interpretar a informação a seu belo gosto. No entanto, tudo me parece a caminho de uma organização ainda que talvez muito superficial.
Como qualquer país a ser reconstruído após uma guerra, que embora não tenha sido devastadora, o Iraque debate-se com muitos problemas. Principalmente pela existência de vários clãs. Sunitas no Centro, curdos a Norte e xiitas a Sul. Esta separação gera obviamente atritos. Numa população maioritariamente islamita tão ligada à religião como se sabe, pequenas diferenças até de interpretação das palavras d'O Profeta podem levar ao incendiar do rastilho do conflito armado. No entanto, através do passar do tempo, e da ocidentalização que traz não só o comodismo mas também uma tolerância, falsa na minha opinião, estas diferenças têm-se esbatido.
E aqui entra Arbil. Uma cidade no Curdistão iraquiano, a norte do país, entre montanhas, onde se podem ver traços de um país a florescer. A imagem que temos do Iraque, de areia, calor, seca, edifícios sujos e velhos e Mercedes abandonados em ruas desertas não podia ser mais errada. Em Arbil a água nunca falta, o Aeroporto tem vastos campos relvados, as casas dispõem-se de forma organizada em ruas limpas e há todas as commodities que qualquer ocidental poderia necessitar. Tudo isto sem postos de controlo, com centros comerciais e gruas que enchem um céu azul, tudo isto impulsionado pelo petróleo, mas ao contrário de outros países, como a Arábia Saudita ou Dubai, parece que se estão a cometer menos erros, já que não há projectos megalómanos nem uma ostracização social sendo uma evolução muito rápida mas pacífica. Sem choques.
Num país ainda a meio gás, com muitos problemas, Arbil, toma a liderança, carregando no acelarador e deixando para trás ideias retrógadas de um Iraque debaixo do regime de Saddam. A ocidentalização é evidente, e pode tornar-se algo errado, no entanto a afluência de empresários e de emigrantes espalhados pelo mundo pelo antigo regime, parece dar a Arbil um fôlego forte mas ao mesmo tempo contido e pensado pelo conhecimento das dificuldades e problemas inerentes àquela zona do mundo que estas pessoas trazem de volta ao seu país e pelo know-how adquirido no Ocidente.
Basicamente, a continuar assim, com o presidente Obama em pleno controlo da situação e com uma retirada organizada das tropas em solo iraquiano, prevejo um futuro auspicioso para o Iraque, ainda que muito provavelmente muitas lutas internas minem o sistema, assim como a corrupção que é uma constante, mas que pode ser ultrapassável pela união de um povo em torno de um país agora mais livre e tolerante na minha opinião.

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