Nos últimos tempos comecei a usar um pequeno livro de notas onde vou apontando ideias, pensamentos e coisas que vejo ou acho giras. É divertido e muito útil. Mas o que tenho apontado e agora que li os últimos dias é pitoresco. Afinal sei muito mais do que imaginava sobre mim próprio.
Repare o leitor que nós temos tendência a ser mais concretos quando escrevemos porque o esforço intelectual é maior e exige uma assertividade maior além de um maior empenho para que no caso das notas caírem nas mãos de outrem não termos a polícia à porta.
Apontei uma série de filmes a ver, e ontem vi o “Eat, Pray and Love” ou algo parecido. Não gostei particularmente mas houve 2 ou 3 coisas que acabaram por ficar. Primeiro a imagem romântica de Roma. As recordações que ficaram são boas, o pós viagem é que foi pior porque vim muito debilitado embora só lá tenha passado 5 dias, mais foi um processo de destruição constante iniciado meses antes que começava a entrar ali em solavancos. Depois algo que a Julia Roberts diz a certa altura: “Quem sou eu? Desde os 15 anos que ou estou a entrar numa relação ou a sair dela.” Mais a mais, todo o filme reflectia muito a feminilidade moderna, coisa que não me apraz tal como a “masculinidade” moderna, mas enfim, tolerância e mente aberta para o mundo. Felizmente essas fases já me são laterais porque no primeiro ano de faculdade tinha acabado de sair de uma já repetitiva auto destruição e para não magoar ninguém e recuperar a minha sanidade, mais física que mental, estive anos fora de qualquer relação. Quem lê pode pensar que estou a mentir e que claro que tive um ou outro “affair”, mas não. Sou muito, muito fiel aos meus princípios e não ia obviamente aproveitar-me de alguém para emergir de forma diferente. No entanto, esta conversa vem acerca de tudo e passa por um desabafo que noutra altura pode ser útil.
Nunca fui ciumento ou possessivo, mas hoje sou. Aliás tinha “irmãos” distribuídos pela freguesia e ainda hoje não sei de grande parte de brinquedos e livros que andam espalhados por aí e sempre gostei muito de dar prendas. A síndrome de filho único está lá pois claro, mas é muito mais ténue do que eu imaginava.
Ao longo dos anos de adolescência e não só, tive muitas namoradas, ou amigas, em que não passei da amizade ou do namoro de vão de escada porque sempre fui mais desse tipo de rapaz que todas as mães gostavam e convidavam a entrar, mas que a timidez fazia fugir. Assim fui e hoje ainda assim sou e se mudar é possível, sempre tive bons resultados, mas porque me lembro disto? Porque eu sei que não posso ficar como já vou escrever e também me lembro porque sem saber porque carga de água, estou a voltar à adolescência. Não que me fascina claro, mas tudo parece estar a andar à roda. Ora olhem: descontrolo há meses de horários, desleixo e falta de organização, vontade de brincar e de fazer o que me apetece, falta de tolerância para com tudo, apetites estranhos e até alterações físicas. Podem julgar que isto é uma mera fase, assim o espero, mas o que é certo que começou-se a manifestar há muitos meses e já havia quem notasse menos eu. E isto leva-me a uma conclusão. Agora sei o que estou a fazer, sei o que é amizade, amor, trabalho e diversão porque já defini tudo isso há uns anos e hoje continuo a escrever tal e qual como antes. É divertido quase saber que ainda alimento o sonho de astronauta e que vou ser engenheiro tal como sempre quis.
Por isso mesmo em cima falei de estradas. Há dias falei durante um par de horas com um professor que formou os catedráticos que hoje dão aulas a outros futuros catedráticos e ele disse que a recta precisa de 2 pontos, de uma forma não trivial claro porque isso é óbvio, mas eu tenho dois pontos. Eu sei como nasci, sei como quero morrer e acredito nisso, logo para mim a vida é uma estrada, colinas e vales claro mas tenho o destino marcado e horas para chegar.
Pelo caminho encontro pessoas que vêm comigo, sítios que mais tarde desenho, outros vão e nunca mais me lembro, o que é certo é que depois de passar é-me impossível voltar atrás. Só para a frente, até em círculos se calhar, mas lá apanho o norte mais cedo ou mais tarde. Sei no entanto que cada viagem é uma vida e que a que eu proporciono é diferente de todas as outras, melhor ou pior é que não sei.
Mas não sigo sozinho leitor, a caravana é grande e tem mais tempo de estrada que a geometria grega e os sólidos do Nilo. Tem mais tempo que o zero.
Coisas que devo reter passam por não atropelar ninguém, por não importunar e estar presente e aí é que noto que as pessoas não sabem viver. Um amigo está a milhares de quilómetros mas está do outro lado, sem estar ligado aqui ou acolá por linhas físicas. Um amante aquece mesmo nos dias frios em que o gelo trava as janelas. E o mundo está aqui mesmo quando só se pode fechar os olhos.
Mais de 90% da actividade cerebral parte dos olhos. E agora vou dizer algo para mais tarde ler e perceber. Muita gente preocupa-se com apenas ver 2 cores. Eu próprio tenho um quadro pintado por mim, por cima da cabeceira da minha cama com 3 cores: preto, branco e cinzento, porque os meus sonhos não têm cores infelizmente. Há pessoas que vêm todo o espectro, mas eu sou monocromático. Para mim só há uma cor não no sentido de sim ou não, de branco ou preto. Quando olho para algo só vejo uma coisa, não vejo 1000 e é isso que faz a caravana diferente. Nós só temos um destino, uma hora e uma existência. Não nos projectamos em planos. Apenas ficam pontos que podem definir planos para outros.
No entanto, às vezes é preciso uma abstracção total, seja numa folha, numa foto, ou até mesmo das nossas relações para ver o que se passa. É preciso escrever tin tin por tin tin o que se passa na cabeça e o que vemos para perceber. É preciso ver algo e perceber o que é, não para que serve, para quando fora ou longe disso percebermos o quão importante é.
E eu percebo as coisas de outra forma e tento fazer os outros ver o meu ponto de vista, no entanto sem resultado porque a tolerância é muito baixa e também assim é que está certo. Só se aprende realmente quando magoa, quando a cabeça bate no ferro e a faca cerra a carne. Só cá entre nós, geralmente eu ajudo as pessoas a sararem as feridas, mas até ao ponto em que me tentem arranhar, nisso sou bem sucedido, sempre ajudei as pessoas de forma humana sem ser filho único, como disse em cima, mas sempre as rejeitei de forma desumana. Porque só tenho uma cor dentro de mim a cada momento, nunca conjugo duas. Azul, vermelho, verde e amarelo são as comuns. Imagine o leitor que cor está dentro de si e vai perceber o que digo além de ser um exercício interessante.
Conclusão de tudo isto, envelheço rapidamente, o tempo passa e tenho hora de chegar. Está apontado no livrinho de notas. Ainda tenho tanto, mas tanto para escrever. Uma vida não chega para viver esta vida.
PS: Ultimamente ando com a mania da fotografia. Vou ver se publico aqui uma ou outra a ilustrar os textos para dar mais vida às letras monótonas.
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