quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Paris (pærɪs para os espertos e poliglotas)

Há algum tempo, escrevi sobre a degradação do tempo segundo considerações físicas e chamei-lhe espaço, porque para mim o tempo ocupa espaço e vice-versa. Mas nestas escadas com as minhas notas isso parece não ter influência. Estou no Palais de Chaillot, sentado naquelas escadas que dão para a Trocadero e vejo a Torre iluminada. Não me inspira qualquer sentimento devastador, porque no fundo é pequena e está sobrevalorizada por tantos filmes, livros, fotos, etc. No fundo digo: “Meh”. É giro sim, mas nada se compara à força das pirâmides, ou da simples coluna do fórum porque aí não havia o mesmo engenho, aí era fúria e vontade apenas.
De Gaulle até Trocadero foi bem mais de meia-hora, mas não tenho horas porque perdi o gosto ao telemóvel e ainda tem a hora antiga e de relógios nunca gostei. Aliás, não gosto de apetrechos. Apenas a habitual mochila para andar rápido e carregado se preciso e vamos embora. Também não tenho muito tempo, mas que interessa? Não vim aqui para conhecer ou ver. Olhem lá, o orgasmo dura 3 a 4 segundos, o resto muitas vezes é dor e dúvidas e anda tudo atrás desses 3 ou 4 segundos. O dinheiro só pode ser aproveitado quando se reformam que é quando estão velhos e cansados, no entanto anda tudo atrás do dinheiro. Enfim, considerações que não fazem parte do meu pensamento.
No entanto é aqui que eu vejo a piada das coisas. As pessoas falam muito de x e y, que é fantástico tiram fotos e levam amigos. No fundo é apenas um jardim como aquele de que trato aos fins-de-semana com o meu pai quando precisa de ajuda e tem ali um chafariz e uma casa. Neste chão de pedra, no frio no rabo e na fome que tenho além do barulho da água e do fustigar do carvão nas linhas fibrosas do papel é que está a piada. Aí está a unicidade do mundo. Sinto-me especial? Claro que sinto. Se não me sentisse já me tinha atirado daquela ponte ali ao fundo se bem que não muito alta, mas a água com aquela cor deve levar àcidos capazes de me matar, por mais ruindade que exista dentro de mim.
Não gosto de grupos nem de companheiros de viagem, por isso rejeito sempre esse tipo de “aventuras”. Não gosto que as pessoas se preocupem porque elas vão passar para mim e gosto de apreciar as coisas de forma diferente da maioria, admito que estupidamente porque isso afasta-me da normalidade. Mas quem se importa? Eu não me importo e até gosto disso. Aliás, eu não me preocupo minimamente que caia aqui uma bomba e nos mate a todos. Não tenho medo de morrer nem que me matem, mas tudo isto desde que dê luta.
Mas voltemos ao local, eu estou aqui a olhar para as pessoas e vejo que muitas delas não estão maravilhadas, têm o braço por cima dela, no rabo dele e riem-se de poemas, mas no fundo pensam “quero é ir para o hotel, quero que me satisfaças, que depois me deixes dormir e não ressones, como era bom que ela/ele estivesse aqui”. É divertido ver como o mundo anda enganado e mesmo a olhar nos olhos as pessoas não vêm. “Como gostava que o teu ressonar fosse embora”, “estás gorda/o”, “queria tanto uma prenda”, “agarra-me e façamos amor aqui mesmo”, “como gostava que não tivesses uma amante e eu te pudesse deixar só que amo-te”, “paris é uma merda, quero ir ver o futebol e beber uma cerveja”, “saudável?! Saudável era tu fazeres o que gostas, andas aí a fazer um esforço a comer saladas, vais morrer é da cura!”. E sabem o que sai? “Amo-te. Ah a vista é maravilhosa! Claro que não estou a olhar para o rabo dela, só tenho olhos para ti! Futebol, who cares?!”
Mentirosos, filhos de mil p!”#$!!! Digam a verdade. Nem num dos sítios “mais românticos” do mundo vocês dizem a verdade. Digam que têm fome crianças! Digam que querem fazer amor e estão cansados! Digam que estão fartos disto ou daquilo. Ah custa!...Pois é, mas se tudo fosse fácil isto era marmelada.
A beleza das coisas está totalmente na sua ingenuidade. Se uma coisa deixa de ser ingénua, perde a piada. Ninguém gosta do sofrimento provocado por outra pessoa, no entanto aceitam-no se for ingénuo e acreditarem que no fundo são eles que deixam. Vejam esta Torre, no fundo foi criada para a exposição mundial para dizer o quão vanguardista era a França, no fundo é uma extravagância desnecessária. Não tem piada porque não foi feita com o intuito de ser bela! Este palácio é até feio porque destruiu outro mais bonito para ficar bem com a Torre aos olhos de estrangeiros e revolucionários industriais.
Estou é a apanhar um frio...vou-me pôr a andar para a gare. Já vi que aqui é igual ao Porto, a Paredes ou à nova Rua dos Combatentes. A pedra gela o mesmo e as pessoas são iguais.



PS: A foto foi tirada quando olhei para trás depois de me embrenhar nas ruas da cidade. Aí era muito mais bonito por causa dos contraste e do silêncio, ou o “barulho das luzes”. Ah Cid! A tua nudez para sempre gravada no meu cérebro!

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