William Wilde entrou na sala e toda a gente olhou para ele. Com o seu chapéu negro e longo sobretudo, de fazenda igualmente escura com gola alta que dava enfâse ao branco de um pequeno lenço que se via num discreto bolso no peito, parecia uma figura saída de um filme de gangsters do início do século XX, onde a cor ainda não era uma realidade e apenas com o aspecto se tinha que dizer muito mais que hoje onde o cinema já não é mudo. Trazia também um longo guarda-chuva que embora sem precisar, usava como bengala enquanto andava. William tinha olhos verdes e embora não fosse muito alto nem largo a sua presença era imponente, devido não só aos seus cabelos longos e volumosamente finos, mas também a uma expressão facial gelada reforçada por um olhar inquisitivo e movimentos fluidos, demasiado fluidos como se tivesse sido ensinado a mover-se junto com a própria sombra. No fundo, Wilde impunha o respeito que só alguém com um elevado cargo e a idade para ser conhecedor poderia impor, no entanto ele não era velho e ninguém sabia ao certo o que fazia, mas muitas vezes não sabiam por falta de coragem, porque as suas mãos longas, finas, mas duras e secas, a barba perfeitamente feita, e um nariz incisivo reforçado por um queixo longo criavam uma certa aura de misticismo à volta dele, que caía por terra quando sorria e mostrava o calor de uns dentes friamente brancos mas arrebatador. Todo ele era um mundo de contradições. Caminhou até uma mesa junto à parede e sentou-se perto de uma janela enquanto deixava o seu chapéu directamente à sua direita de forma a ficar a olhar directamente para a porta. Logo que se sentou cruzou as pernas enquanto mantinha as costas direitas e retirou de um bolso interior uma cigarreira de prata escovada. Sobranie Black podia ler-se no filtro do cigarro. Enquanto acendia os cigarros olhou pela janela de forma a ver a rua que já estava escura devido às nuvens e à pesada chuva. Uma bonita empregada de mesa aproximou-se e perguntou o que queria. Tirou o cigarro da boca com a mão direita e cruzou-a com a esquerda em cima da mesa:
- Um copo do vosso melhor vinho tinto.
- Château Latou de 1983?
- Château Margaux 1983. – corrigiu.
- Terá que pagar em avanço Monsieur. É um vinho tinto caro e somos obrigados a…
William tirou uma carteira fina de um bolso oculto no seu casaco sem parar de olhar pela janela e retirou sete notas de cem euros cada de um pequeno maço de notas perfeitamente novas e lisas interrompendo-a:
- Não me chame Monsieur. Não sou francês. Setecentos é suficiente não é?
Ela consentiu com um notar surpreso agora que tinha as sete notas na mão e dirigiu-se à garrafeira mais escondida do restaurante. Setecentos euros por uma garrafa de vinho era o ordenado dela pensava enquanto se dirigia para a garrafeira ainda cambaleante com a calma do homem. Para o homem que o bebia era comparativamente uma moeda. Após pagar continuou a fumar o seu cigarro vagarosamente, emerso nos seus pensamentos, indiferente à beleza daquela mulher que costumava servir clientes que vinham ali só para a ver.
Quando o vinho chegou numa bonita garrafa com o rótulo creme do vinho de Bordéus, ele descruzou as mãos e colocou o seu cigarro ainda em fogo no cinzeiro. Olhava agora para o vinho a ser vertido num copo alto e perfeitamente limpo, que não tirava o brilho do vinho pela sua complexidade.
- Deseja provar senhor?
- Não, hoje não obrigado. Não bebo.
A funcionária retirou-se totalmente desconcertada com aquele homem, pelos vistos não era ele que ia beber o vinho e estava à espera de alguém e de facto Wilde nessa noite não estava sozinho.
Eram cinco para as vinte, mas ele chegava sempre mais cedo, dez minutos mais cedo onde quer que fosse. Era cuidadoso, meticuloso, e específico em relação a tudo, incluindo tempo e lugares. O vinho era concentrado e profundo com um aroma atractivo, quase se podia dizer que era um perfume. Feminino. Perfeito.
Lá fora a chuva estava cada vez mais pesada e as gotas caíam com impacto, dentro do restaurante William podia ver algumas pessoas a correr com jornais e sacos na cabeça protegendo-se daquela chuva grossa e das ondas provocadas pelos carros que passavam a grande velocidade naquela estreita rua, principalmente táxis negros. Faltava um minuto para as oito da noite quando quem esperava deu um sinal da sua existência.
Debaixo de um trabalhado candeeiro uma figura bem contornada saltou directamente vinda das sombras luxuriantes sem qualquer aviso. Guarda-chuva preto e um casaco longo que protegia um vestido igualmente escuro que vinha um pouco abaixo do joelho.
Enquanto ela atravessava a rua a correr chuva, ele olhava-a com o seu olhar penetrante e com um sorriso torto que mostrava uma certa condescendência. Quando entrou no hall, nem por um momento Wilde desviou o seu olhar ao contrário dos homens na sala que facilmente desviaram o olhar das suas luxuosas refeições para a ver.
O cabelo longo e ondulado que descia até meio das costas não disfarçava as suas formas voluptuosas que o vestido negro e longo pronunciavam ainda mais. O seu corpo era o que mais que mais depressa saltava aos olhos porque a face oval e bonita apresentava mesmo assim uma expressão de criança acentuado por gestos demasiado rápidos e nervosos. Mesmo assim aquela mulher era o desejo de muitos homens até porque tinha uma aura de poder difícil de ignorar.
Quando a empregada se aproximava para guardar o seu casaco ela fechou o guarda-chuva e passou por ela sem dizer qualquer palavra sentando-se em frente dele.
- Um copo do vosso melhor vinho tinto.
- Château Latou de 1983?
- Château Margaux 1983. – corrigiu.
- Terá que pagar em avanço Monsieur. É um vinho tinto caro e somos obrigados a…
William tirou uma carteira fina de um bolso oculto no seu casaco sem parar de olhar pela janela e retirou sete notas de cem euros cada de um pequeno maço de notas perfeitamente novas e lisas interrompendo-a:
- Não me chame Monsieur. Não sou francês. Setecentos é suficiente não é?
Ela consentiu com um notar surpreso agora que tinha as sete notas na mão e dirigiu-se à garrafeira mais escondida do restaurante. Setecentos euros por uma garrafa de vinho era o ordenado dela pensava enquanto se dirigia para a garrafeira ainda cambaleante com a calma do homem. Para o homem que o bebia era comparativamente uma moeda. Após pagar continuou a fumar o seu cigarro vagarosamente, emerso nos seus pensamentos, indiferente à beleza daquela mulher que costumava servir clientes que vinham ali só para a ver.
Quando o vinho chegou numa bonita garrafa com o rótulo creme do vinho de Bordéus, ele descruzou as mãos e colocou o seu cigarro ainda em fogo no cinzeiro. Olhava agora para o vinho a ser vertido num copo alto e perfeitamente limpo, que não tirava o brilho do vinho pela sua complexidade.
- Deseja provar senhor?
- Não, hoje não obrigado. Não bebo.
A funcionária retirou-se totalmente desconcertada com aquele homem, pelos vistos não era ele que ia beber o vinho e estava à espera de alguém e de facto Wilde nessa noite não estava sozinho.
Eram cinco para as vinte, mas ele chegava sempre mais cedo, dez minutos mais cedo onde quer que fosse. Era cuidadoso, meticuloso, e específico em relação a tudo, incluindo tempo e lugares. O vinho era concentrado e profundo com um aroma atractivo, quase se podia dizer que era um perfume. Feminino. Perfeito.
Lá fora a chuva estava cada vez mais pesada e as gotas caíam com impacto, dentro do restaurante William podia ver algumas pessoas a correr com jornais e sacos na cabeça protegendo-se daquela chuva grossa e das ondas provocadas pelos carros que passavam a grande velocidade naquela estreita rua, principalmente táxis negros. Faltava um minuto para as oito da noite quando quem esperava deu um sinal da sua existência.
Debaixo de um trabalhado candeeiro uma figura bem contornada saltou directamente vinda das sombras luxuriantes sem qualquer aviso. Guarda-chuva preto e um casaco longo que protegia um vestido igualmente escuro que vinha um pouco abaixo do joelho.
Enquanto ela atravessava a rua a correr chuva, ele olhava-a com o seu olhar penetrante e com um sorriso torto que mostrava uma certa condescendência. Quando entrou no hall, nem por um momento Wilde desviou o seu olhar ao contrário dos homens na sala que facilmente desviaram o olhar das suas luxuosas refeições para a ver.
O cabelo longo e ondulado que descia até meio das costas não disfarçava as suas formas voluptuosas que o vestido negro e longo pronunciavam ainda mais. O seu corpo era o que mais que mais depressa saltava aos olhos porque a face oval e bonita apresentava mesmo assim uma expressão de criança acentuado por gestos demasiado rápidos e nervosos. Mesmo assim aquela mulher era o desejo de muitos homens até porque tinha uma aura de poder difícil de ignorar.
Quando a empregada se aproximava para guardar o seu casaco ela fechou o guarda-chuva e passou por ela sem dizer qualquer palavra sentando-se em frente dele.
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