domingo, 30 de dezembro de 2012

Rissol do Loch Ness



Durante a semana há sempre uma refeição dedicado ao rissol. Este alimento de nutrição duvidosa, e de certa forma rápido de confecionar,  encontra-se muitas vezes no congelador qual lata de atum num futuro pós apocalíptico e a verdade é que todas as famílias têm pelo menos uma vez por semana uma emergência que obriga ao recurso aos saudáveis alimentos congelados. Assim foi num sábado em que voltei a casa. Por alguma razão (que eu espero sinceramente que não seja a minha chegada a casa) houve uma emergência alimentar que levou a um almoço de rissóis.
Pois bem, como toda a gente sabe este pequeno alimento dourado, se bem confecionado pode ser apresentado em várias variantes. Deixem-me só fazer a ressalva que por motivos que desconheço passei a gostar deles bem moreninhos, esturricados até. Desde que vivo sozinho passei a ser menos exigente. Voltando aos tipos de iguaria “rissoliana”, o mais comum é o de carne vermelha, logo seguido pelo de camarão. Em muitas casas, tal como na minha, tenta-se dar um passo no sentido da inovação tecnológica do rissol apresentando o de bacalhau e o misto (queijo e fiambre). Um dia mais tarde falo-vos de um fatídico e pouco célebre dia em que o meu pequeno-almoço foram rissóis de leitão. Não foi bonito e arrependo-me ate hoje desse momento numa vida marcada pelo arrependimento de situações embaraçosas em que o leitão está muitas vezes presente.
Alheando-me das preferências carnais que estão na base de alguns momentos embaraçosos, esclareço que a minha família tem tendência a "etiquetar os rissóis": carne ali, bacalhau acolá e o camarão para mim ou para ti, os de queijo em cima da mesa e os de fiambre a sair. Tudo levava a crer que aquele dia não seria exceção. No entanto, num lance de estudada genialidade que se veio a revelar apenas um estudo e nada mais que isso, porque de prático pouco teve, decidi intervir:
- Caros conterrâneos, seres inferiores, que tão bem fizeram de mim o bonito homem que têm à vossa frente, não vos precipiteis. Hoje vou mudar as vossas vidas. - Intervi eu.
- Vais começar a contribuir para a casa? - Perguntou um ignorante presente que se fez passar por meu pai.
- Não é a minha presença já motivo de contribuição para a casa e respetiva felicidade tua_
- Oh Diogo... por favor, se te deixasses de palermices e… - Ia começar a ripostar o velho homem e dei-lhe todos os ouvidos interrompendo-o e continuando o meu discurso.
- Assim é mortais. Vou pegar neste prato repleto de rissóis e vou baralhá-los. Distribuir os naipes de rissóis.
Assim fiz. O pânico gerado de seguida foi digno de um Bruce Lee no meio de uma série de discípulos maléficos mal treinados: "Que é isto? Odeio.", "Quantos foram destes? Tenho que acertar no próximo!", "Quero um diferente! E agora?", "IH! De carne! Que sorte! Troca comigo!", "Nem penses! Pesca!".
Esta discussão prolongou-se numa pouco saudável tentativa de adivinhar qual seria o tipo do próximo rissol, até que por fim sobrou um que duraria até a próxima refeição. A dúvida estava criada. De que seria aquele rissol?  Carne? Não porque já se tinham comido 4. Camarão também não, era impossível! E bacalhau? Quantos teriam sido? Quantos foram fritos? Não havia registo, ninguém sabia e todos tinham medo do que poderia aparecer ali. Sorteamos quem seria a pobre criatura até que, um valente idoso se voluntariou, qual japonês apos Fukushima sabendo que já tinha dado ao mundo algo em troca pela sua vida.
A verdade é que todos esperávamos por aquele momento de valentia desejosos de saber quem teria razão. Apostas foram feitas, certezas dadas, mas a dúvida? Essa persistia. Cada trago, cada dentada, era uma questão.
Infelizmente, nada nos foi dito. Num ato de pura malvadez, o rissol foi digerido sem que nenhuma informação sobre o seu conteúdo tenha sido transmitida. O sofrimento prolonga-se. Passo noites sem dormi e hoje o sofrimento, a dúvida que me preenche a alma, continua lá, mais forte que nunca.
De que seria o rissol?
Uma das muitas duvidas que me assolam a mente e que não serão nunca respondidas no futuro. Este rissol revelou-se uma Atlantis culinária, um Sasquatch panado, um triângulo das Bermudas arredondado, um…um…um…um dos grandes mistérios da vida!...

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