domingo, 14 de abril de 2013

Perfeitos desconhecidos


Vejo-te dançar mesmo que não olhe diretamente para ti, fruto de uma vergonha muito própria de quem se sabe inferior. Os teus movimentos doces e pautados pela música fazem-me feliz. Só pela tua presença me mantenho aqui, feliz, num langor ansioso por uma palavra ou um momento só nosso.
A forma como te vestes e a dinâmica pouco matemática das tuas mãos finas e nevrálgicas, revelam a classe incontornável de alguém que há muito tempo já estaria para lá dos comuns mortais, observando apenas, numa atitude de superioridade contemplativa tal as tuas valências relativas às demais. Imerso na tua beleza lapidada, cruzo-me com o teu corpo enquanto vestes a inapercebida jaqueta que te acompanhava desde a entrada e que está agora perto de mim ao ponto de lhe sentir o perfume que de tão doce me arrebatou o coração por completo.
Sem perceber no êxtase da contemplação decides partir, mas este coração apertado levanta-me e chama por ti, indeciso pelo teu ar de surpresa, mas agradecendo-te pelos doces momentos que lhe proporcionaste, ele que estava ausente deste mundo dos vivos há tanto tempo.,
Ris-te delicadamente, agradada, talvez, pelo comentário. Não sei. Acabas por ficar mais um pouco até a triste e indelével distância de um fatídico destino nos ter que afastar.
Saio, alegre por te ter visto, arrependido de ser apenas eu e não um outro alguém incapaz de mudar os tempos e decidir futuros.
Se o coração outrora apertado entristecia o vaguear noturno, a madrugada fica mais leve e clara pela simples possibilidade de te ver de novo.
Ana, Margarida, seja qual for o teu nome, observo o mundo esperando encontrar-te em breve. Entretanto, sorrio, lembrando-me de ti, neste sol maravilhoso de uma movimentada rua primaveril.


Num acesso de pura ternura, levem este álbum para casa:

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