quinta-feira, 17 de julho de 2008

Boca do Inferno


Por esta altura de férias e depois de um ano de faculdade extenuante, acho que não só para mim, mas para todos os meus colegas que se aplicaram minimamente, comecei a ler de novo. John Steinbeck, Hemingway e Kafka. A conselho de algumas pessoas comprei também outros livros bastante pesados filosoficamente e claro, comecei a ler. O problema é que ao fim de 10 páginas começava a perder o fio à meada e tinha que parar. Bem, isto não era de todo normal, geralmente leio imensas páginas sem o mínimo sinal de cansaço, mas agora não é bem assim. Resultado, livros para a estante do "por ler" e peguei em coisas mais leves. Pedi emprestados a um amigo meu a Boca do Inferno e a Caixa em forma de coração de Joe Hill, que me parecem bem mais softcore. Nem sempre conseguimos manter uma atenção de leitura que nos exigem livros filosóficos ou com tendência para tal.
Neste momento estou a ler a Boca do Inferno. Vou sensivelmente a meio e digo-vos, o Ricardo Araújo Pereira é um génio. Mas esta, é a minha opinião muito, muito pessoal. A título de exemplo, o meu pai tem certas dificuldades em perceber esse senhor.
Génio ou não, a forma como ele critica tudo e todos, desconcerta-me. Geralmente sou eu que critico tudo e todos, mas não desta forma tão literal, embora use muitas vezes os mesmos esquemas e trapaças, como a ironia, o sarcasmo e a auto-crítica. O Ricardo não tem medo, nem conhece limites do aceitável. Para ele não há assuntos intocáveis.
Tenho lido com muita calma. Não mais que 50 páginas por dia, ou seja cerca de 20 opiniões por dia e espaçadas para saborear a ironia deste homem. No entanto, já disse isto a muitos colegas meus, detesto pessoas que só criticam. E o Ricardo, ainda que muitas vezes com toda a razão só critica e não põe um único aspecto positivo num artigo de opinião.
Notem que eu estou a tratá-lo como "o Ricardo", é esquisito, mas parece que andei com ele na escola, acompanho o trabalho dele desde os tempos da Sic Radical e sempre fui fã dele como do Tiago, do Zé e do Miguel. Peço desculpa se acharem que estou a ser muito pessoal.
Mas voltando à nossa conversa, retiro o que disse sobre o Ricardo ser um génio. Para ser génio ele tinha também que dizer algo de positivo sobre qualquer coisa. Até agora não vi nada, e isso começa-me a desmotivar para o resto do livro. A onda de negativismo que emana daquele livro é enorme, e se o país já está mal, se as pessoas que o governam e que têm um papel tão importante na sociedade são tão más, acho que não é preciso aumentarem o meu pessimismo.
O que vos aconselho é: se quiserem rir-se um bocado e não se importarem de levar com umas horas de crítica nua e crua, feita com arte, com cultura e acima de tudo ironia, então aconselho vivamente. Se, por outro lado, estiverem mais interessados em melhorar as vossas férias e ler algo leve e divertido não entrem por aqui.
Mas que o Ricardo Araújo Pereira revela com a idade que tem, um dom tão grande para a escrita, uma cultura tão acima da média e uma imaginação táo fertil, lá isso revela. E isso só augura coisas boas. Desejo-lhe as maiores felicidades e vou continuar a seguir atentamente a sua obra.

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