quarta-feira, 23 de julho de 2008

História

Aos 17 anos já tinha saído da escola, com a escolaridade mínima: o 9º ano. Tinha sido sempre adorado por todos os colegas, jogava razoavelmente futebol, tinha começado a fumar aos 12 anos atrás da escola e por volta do 7º ano já levava e vendia algumas drogas leves aos putos que andavam com ele.
Tinha uma namorada já há uns anos e desde cedo tinham relações sexuais. Ela era bonita e tinha 16 anos, todos os gajos da escola andavam atrás dela o que aumentava ainda mais o ego dele.
No bairro onde morava toda a gente o conhecia e tinham respeito por ele, não por uma única vez chegou a andar armado e a participar em assaltos ou carjacking. Aos 17 já tinha vivido mais que muitos com 30.
Para ele o estudo era uma "cena cultural" que não interessava a ninguém, queria ver-se livre daquilo e foi o que a sua namorada fez por influência dele. Começou a trabalhar numa confecção em que ganhava pouco mais que o ordenado mínimo.
Ele por sua vez andava agora nas ruas a vender uns telemóveis roubados, passava drogas e fazia umas corridas num carro que tinha comprado e quitado há pouco tempo, mesmo sem carta. A maioria do seu tempo era passado no café a jogar cartas, ou ver futebol com os amigos.
Um dia a sua namorada trouxe a notícia que estava grávida. Era altura de conhecer os pais dela. Foi jantar a casa deles:
- Então tens emprego?
- Umas coisas em vista.
- Como é que vais sustentar a criança.
- Cá nos havemos de arranjar.
Naquele momento sentiu que era altura de arranjar um emprego e começar a ser um homem a sério. Procurou em todos os jornais, telefonou para todos eles, mas ninguém procurava pessoas com a formação dele e a única coisa que conseguiu arranjar foi um emprego com o ordenado mínimo num armazém. Mas, o vício estava lá. Ele precisava de mais dinheiro. A casa que tinham alugado, a gasolina para o carro e as constantes ressacas obrigavam-no a comprar mais droga. Precisava de mais dinheiro. Um dia foi apanhado pelo gerente a ressacar na casa de banho de serviço com o garrote e a seringa espetada. Não foi o fim. Ainda havia pessoas boas no mundo. Pouco tempo depois, foi obrigado a roubar do seu próprio trabalho. Foi apanhado e despedido. A criança estava para nascer.
Numa das suas corridas, para ganhar algum dinheiro, acabou por ter um acidente. Não tinha carta nem seguro. Foi responsável por uma morte. Um assassinato. A criança nasceu.
Enquanto se despedia da mulher e da filha recém nascida vigiado por 2 guardas prometeu a si mesmo: Não mais, o meu filho há-de ter educação, não vai andar nas ruas e vai ter o meu amor a apoiá-lo em tudo o que eu puder, não, ele não vai ser igual ao pai, vai ser muito melhor!
Tinha nascido ali uma nova vida nas raízes de uma planta sem esperança e morta para a vida.

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