quarta-feira, 16 de julho de 2008

Viagens


Nunca tive dinheiro para viagens ao estrangeiro nem grandes possibilidades para tal, não que isso me deixe triste: com quase 19 anos tenho o mundo à minha frente e se começar a sair do meu país por volta dos 25 ainda tenho muitos anos para ir onde gostava. Tenho colegas que já visitaram meio mundo, no entanto se lhes pedir para contar uma história sobre um sítio ou um lugar eles não a sabem contar.
Aos poucos sítios que tive oportunidade de ir guardo imensas recordações. Acho que viajar é como as refeições. Se vocês estiverem habituados a comer muito bem e a melhor comida durante imenso tempo isso vai levar a que não retirem o prazer de cada refeição. É preciso saborear e a maioria das pessoas não faz isso.
Quando digo saborear, são aqueles pequenos sabores e fragrâncias que nos deixam uma marca para a vida. Nas viagens o mesmo se passa, mesmo que seja uma viagem de uma hora de carro ou até mesmo a pé, podemos retirar dela um prazer que numa volta ao mundo muita gente não retira. Foi o que se passou há uns meses mas só hoje escrevo o que por si só é sinal de que me lembro: depois de uma noite cheia peguei no carro e meti-me a caminho de casa pelo meio da baixa do Porto. Escusado será dizer que era uma noite fria e cerrada como vocês devem imaginar e a estrada estava vazia. Não se via ninguém na rua. As árvores largavam pequeninas flores brancas que flutuavam no ar com o vento. Dentro do carro estava quente e na rádio emitiam flashbacks de músicas de que eu já não me lembrava. Acho que foi uma das viagens que embora tão pequena não vou esquecer. Digo-vos, senti-me tão parte do Mundo naquela meia hora que durou a viagem que acho que não a trocava por nada.
Ontem passou-se o mesmo. Em direcção a casa, naquela altura que o sol já começa a descer e o dia desiste de queimar a pele, conduzia devagar, encostado à direita e sem pressas. Tinha tempo, o dia estava a acabar e por mais depressa que andasse isso não me ia adiantar nada. Não tinha horas nem preocupações naquele momento. A rádio mais uma vez desempenhou um papel essencial com uma sequência de músicas espectacular. Ez Special, Incubus, Linda Martini e Goo Goo Dolls, assim que eu me lembre por alto.
Foram cerca de 20 minutos que não voltava a trocar por nada. Debaixo daquele sol mole, com sal na pele e cansado estes são momentos que não se repetem por muitas vidas que tenhámos.

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