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O sangue estancou tão repentinamente como veio. Levantei-me de forma definitiva e ziguezagueando por entre a roupa no chão cheguei à casa de banho e liguei a luz. Aquela fluorescência branca reflectia nas paredes de azulejo e no lavatório lembrava em tudo um hospital. Fazia-me doer os olhos e além disso só realçava o meu corpo magro e seco, onde se notavam bem as costelas com uma tonalidade muito mais branca do que é na realidade. A minha cara também parecia mais velha, não cortava a barba há uns dias e o cabelo estava todo desgrenhado e parecia sujo.
“O que diria a minha mãe se me visse assim?” falei em jeito de monólogo enquanto esfregava sabão na cara.
Cortei a barba com uma gilete nova, o que me provocou alguns cortes e de seguida tomei um bom duche. Acreditem ou não, parecia dez anos mais novo e estava muito mais apresentável.
De volta ao quarto, o relógio já marcava 11 e 20, vesti uma roupa qualquer, aliás toda a minha roupa era muito parecida, na rua ninguém dava muito pela minha presença. Era apenas mais um rapaz com aquelas roupas indie que nunca estiveram na moda mas que também à mais de 20 anos toda a gente usava.
Enquanto isso já a Dacia tinha tomado o seu pequeno-almoço. A sua inteligência às vezes admirava-me: tinha aberto a porta do armário e despejado o saco que tinha a sua ração por todo o chão. Será que os animais agem racionalmente? Ou terá ela feito isto apenas porque tinha fome e de forma instintiva?
Deixei-me destes pensamentos e afaguei-lhe as orelhas fofas.
Era a minha vez de tomar o pequeno-almoço. Abri todos os armários mas como era habitual não havia nada que me despertasse o interesse. Claro que uma caixa de cereais e um pacote de leite de que nem eu me lembrava quando os tinha comprado não podiam ser apetecíveis. Também já era hábito não comer em casa. Hoje não havia de ser diferente. Dirigi-me para a porta, e lá estava algo pelo qual eu não esperava.
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