segunda-feira, 26 de abril de 2010

O começo - III

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No chão, perto do tapete de entrada, estava um conjunto de cartas. À medida que me baixava e aproximava o zumbido nos ouvidos tornava-se mais irritante. Peguei nelas. O meu coração parou por uma pulsação e fiquei suspenso no tempo. Apenas o zumbido que ecoava no meu cérebro e agora umas cartas aparentemente normais nas mãos.

Por instinto abri a porta mas não vi nada de estranho. Apenas uma luz acesa na escadaria o que era estranho: o meu piso era o último e a escada terminava à porta de minha casa.

Fechei a porta e voltei ao quarto. A minha cadela não ladrou durante a noite mas alguém as deve ter empurrado por baixo da porta. Certo é que sentei-me numa cadeira e pousei a caixa na secretária. Agora via nitidamente que eram cartas fora do normal. Não tiham destinatário ou remetente e estavam gravadas datas numa caligrafia clássica que mostrava que não era recente, até pela cor do papel amarrotado. Já não se escrevia assim, de forma tão bela como as datas naquelas cartas. Cheirei-as, mas apenas se sentia o cheiro a papel já envelhicido com quando se entra num alfarrabista. Abanei-as perto do ouvido que por aquela hora já tinha voltado ao normal, mas não se ouvia o mínimo barulho dentro delas, o que era normal. Procurei a abertura mas todas elas tinham selo. Apenas um F com uma caligrafia muito idêntica à das datas na frente das cartas. À volta do F e a circudá-lo, em letras pequenas, aparecia:

“Futuro é presente e passado foi começo”

Mais que tudo estava preocupado, não era nada normal ficar assim, sempre fui muito calmo e eram raras as coisas que me preocupavam, mas admitámos que não era normal acordar e encontrar um conjunto de cartas que nunca tinha visto espalhadas no chão de casa. Só a Dacia a podia ter alguma pista já que eu nada sabia nem tinha ouvido durante a noite. As coisas não aparecem do nada, a porta estava fechada e era impossível alguém ter entrado sem que eu percebesse. Fora de questão. A cirandar pela casa acabei por as deixar mesmo ali, perto do computador. Não deviam ser para mim, não as ia abrir e muito menos deitar fora, talvez passasse pelos correios a perguntar, ou nos vizinhos se ouviram alguém.

O relógio marcava 11:29. O tempo passou incrivelmente depressa enquanto olhava para aquelas. Mal me levantei ouvi passos na escada, todo o meu prédio rangia, não fosse ele umas dezenas de anos mais velho do que eu. Logo de seguida três pancadas surdas na porta anunciavam alguém.

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