segunda-feira, 26 de abril de 2010

O começo - VIII

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Vim a saber que a avó de Pierre casara com o seu avô havia cerca de 60 anos, em Saint Omer, perto de Calais, 2 anos depois do fim da Guerra que devastou a Europa na década de 40. O seu avô era um antigo combatente da The Royal Ulster Rifles divisão inglesa que combateu na Normandia e tinha acabado por ficar em França após a Guerra, na bonita costa norte do país, também a pedido da sua esposa, enfermeira que lhe sarara ferimentos causados aquando do famoso desembarque na costa francesa. Mais tarde os seus pais formardos em Paris em engenharia mecânica por lado do seu pai e engenharia financeira por parte da mãe por lá ficaram, crescendo Pierre num dos muitos subúrbios de Paris, ele que tinha desistido da escola para se dedicar a um emprego, mecânica num centro de reparação automóvel e mais tarde os transportes internacionais, nos quais já andava havia 2 anos, ele que agora tinha 23.

Nenhum de nós completou um curso superior, ao contrário de Zoe, no entanto ao contrário do que seria de esperar, a nossa educação nas ruas, nos subúrbios, com gente das mais diversas culturas como é o caso de duas das maiores capitais europeias, Londres e Paris, era suficiente para ter uma conversa extremamente agradável e interventiva em todos os campos sócio-económicos, música, pintura e cinema.

O tema da conversa era a crise mundial que era uma realidade. O desemprego subiu vertiginosamente como já não se via há muitas décadas, as classes médias começavam a desaparecer e existia um mau estar generalizado por todo o mundo:

- A culpa de todo este descalabro mundial que já se arrasta há anos é das mulheres – dizia Pierre.

Com indignação Zoe feminista retaliava:

- Então porquê? Somos nós as culpadas da má gestão que vocês homens fizeram e das leis erradas que implementaram?

- Não Zoe – dizia Pierre com um sotaque carregado de erres. – Não sou machista, mas tudo isto começou com a libertação das mulheres e do sufrágio universal.

- Não me digas agora que não temos direitos.

- Claro que ninguém vos nega os direitos, mas em tão pouco tempo, meros anos, as mulheres invadiram o mercado de trabalho com mão de obra mais barata.

- O que veio incentivar a economia, loucos anos 60 em que tudo cresceu!

- Sim, mas a crise de valores que se instalou é que veio agravar a situação. Já reparaste Zoe, nos filhos que ficaram em casa sem mãe? Sem alguém que lhes desse os valores necessários?

- E estás a dizer que toda esta situação é culpa de mulheres que queriam e lutaram pelos seus direitos?

- Sim! Claro! Devia ter-se organizado a sua libertação de forma comedida e não assim.

Eu assistia divertido à discussão enquanto comia o macarrão pré cozinhado que Pierre trouxera de França no camião e bebia uma cola gelada. A Dacia já estava estendida no tapete, a olhar para nós com aquele olhar ensonado.

A discussão demorou mais uma hora e já eram 3 da manhã quando finalmente a comida acabou e Zoe e Pierre, que houve momentos antes vermelhos de fúria e a explodir de indignação, decidiram que estava na hora de se irem embora.

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