sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Rugby uma dicotomia futebolística

Do alto do meu 1 metro e 70 e com uma massa de 60 kg’s, cheguei a casa, Pai, Mãe. Vou-me meter no Rugby. O seu sorriso com elevado teor de ironia prenunciava algo, Sim, claro Diogo, mas agora por favor come o biscoito que está aí em cima da mesa e deixa-nos ler o jornal/novela respectivamente.
Não me levaram a sério, não sei porquê. Ora eu insisti: Não, a sério vou treinar, já falei com o Jorge e pelos vistos posso treinar. A preocupação latente nos seus rostos começava a ser evidente, Diogo, já é tarde. O carro está na garagem? Perguntaram, à laia de uma eventual violação e indução em coma por parte de uma quinzena de mulheres bem intencionadas, Está, pois claro, Diogo, foi cerveja? Não pai, nunca bebi. Estupefacientes? Cheiras a mulher! Ei! Não, não, nada disso. Mais descansados vendo que eu lhes tinha mentido como habitual e que até estava normal sugeriram um psicólogo amigo, que tratava das crianças do bairro que tinham sido vítimas de bullying escolar na 3ª classe por parte de alunos do 4ºano. Recusei a oportunidade de conhecer a doutora Rita, embora o meu pai com o piscar de olho mostrasse que eu me viria a arrepender, algo que a minha mãe não viu ou poderia muito bem neste momento ser testemunha de um homicídio. Quem é esse Jorge, vende drogas? Não pai é uma pessoa íntegra e que até joga muito bem futebol, até já joguei com ele, menti eu mais uma vez. Conheceste-o como? Num jogo de futebol, a mentira era quase insuportável até para os meus pérfidos sentidos mentirosos, não sabiam eles que o tinha encontrado após uma festa da distinta faculdade que frequentou em tempos deitado na valeta de uma estrada municipal, e arrancado com uma espátula de cozinha que costumo andar no carro à socapa de situações idênticas.
Preocupados com uma eventual subida dos níveis de testosterona tanto o pai como a mãe, perguntaram se eu ainda namorava e se estava tudo bem, ao que respondi sim, mais uma vez mentira porque agora com 21 anos, a minha vida amorosa resumiu-se a uma fortuita noite no quarto de hóspedes com uma boneca chamada Brígida dos tempos em que a minha mãe era uma criança. Tirei-lhe a roupa delicadamente como nos filmes que via na internet quando vasculhava formas de remover o acne e aumentar partes do corpo não próprias a explicitação. Medi-lhe as formas com os olhos, imaginei o que podia fazer com o seu cabelo e as curvas, qual Barbie. Investi tudo ali. Avó! Avó! Posso utilizar a tua máquina de costura e fazer um vestido? Tudo se resumiu a uma noite. A Brígida desapareceu no sótão agora vestida com um uma bela camisa rendilhada e uma saia rodada….ahhhh Brígida que saudades. Divagações à parte. Depois de ténis, futebol e muitos outros desportos que pratiquei, o pai desconfiou que existia realmente uma certa inclinação para a heterossexualidade, ele que dizia a todos os amigos que não tinha filho, como iria ele explicar que afinal tinha um rapaz em casa? Percebi a preocupação e menti, Pai, eu sou homossexual, gosto do contacto, dos corpos suados, do cheiro a cavalo e do som de trote de homens que vêm em direcção a mim para me esmagar como uma mosca. O alívio do meu pai foi evidente já que não teria que justificar esta criança de 21 anos frágil e virada para artes maricas como o caso da escrita.
Mas vais mesmo? Sim, vou jogar. E tu sabes? Vou aprender. Está bem então, não te esqueças do biscoito, era a novela das seis e não queria interromper mais.
Fui jogar rugby.
Mas então quem é aquele senhor baixinho e magro que está ali a falar em russo. Só conheci um russo na vida e era professor de ballet. Enganei-me? Espera ali ao fundo futebolistas, relvado. Queres ver que é este senhor que me vai dar o treino. Assim foi. Arrependi-me deste pensamento quando após 20 minutos já me encontrava branco e com todas as feridas que julgava saradas abertas. Detestei aquele homem ali no momento. No entanto ele disse e correctamente, Vão-me agradecer a dor que sentem nas costas! Mais tarde quando alguém partir as costas a meio e ficar dobradinho como um guardanapo de papel, vão perceber. Ora, promovi o senhor a meu ídolo e bebia as suas palavras, já que gosto de desportos sobre rodas, mas não como sendo a última possibilidade.
Rugby é duro, sim é. Rugby é equipa, responsabilidade e paixão. Rugby é força, potência, peso e velocidade. Rugby é um desporto de hooligans praticado por cavalheiros. Mesmo que num mero revés da vida não volte a praticar aprendi mais ali com os sub-18 do que em algumas épocas de futebol. Hoje jogar futebol entre colegas não é a mesma coisa. É algo que faço pelo divertimento puro e não pela vontade de me sobrepor a ninguém. Gosto de vencer, com cavalheirismo e classe, mas não apenas vencer. Gosto de conhecer e ajudar. Nunca vi o desporto dessa forma colectiva em que não há toques na bola porque não dá, fintas muito menos e, Então não desces? Como é? Falhas isso?! Fraco. A noção de equipa sai reforçada, a amizade também e é fantástico como apenas num treino isso se passou. Rugby são pessoas, futebol jogadores. Nenhum desporto melhor que o outro, mas como fã de futebol convertido, gosto mais de Rugby e agradeço a todos que me proporcionaram a oportunidade de experimentar.
Menos ao professor Jorge que vive num sítio escuro e sombrio no qual me perdi e tive que pedir indicações a um senhor que pensou que eu era um assaltante, senhor o qual tive que correr atrás, roubar-lhe a carteira ver a identificação e chamá-lo pelo nome enquanto lhe dava duas lambadas fortes para ele ver que era a sério e que eu precisava de uma informação. Saí dali a correr mas deixei-lhe a carteira já sem moedas que lhe pesavam e disse muito obrigado.

Nota: O Word reconhece a palavra homossexualidade, no entanto não reconhece heterossexualidade e testosterona. Cuidado na sua utilização prolongada que pode amaricar os sentidos mais do que o actual blog. Qualquer falha no humor, ou ofensa deve ser mesmo vista como tal, porque realmente não fazia nada do género há anos.

Sem comentários: