Nas estepes do país da estrela, o verde e branco sobrepõem-se a qualquer sentimento de esperança em encontrar vivalma. O velho Gaz dá solavancos nos acessos esburacados e escorrega na neve, no entanto mantém-se na estrada enquanto nós saltámos lá dentro com a cabeça a bater no tecto.
Aparentemente chegámos. Onde deveria ter existido um portão apareciam dois sinais, um a avisar sobre a possibilidade de radiação e outro a dizer que não era permitida a entrada a pessoas estranhas. A partir dali devia seguir a pé. Sem tempo para que esboçasse uma reacção o velho carro cinzento deu meia volta e seguiu o caminho inverso. Só viria daqui a umas horas. Tinha que aproveitar enquanto era dia, porque o sol já ia na fase descendente.
Comecei a caminhar incerto sobre o caminho a seguir, mas também que caminho? Ou ia em frente ou voltava para trás, portanto segui o caminho e andei, andei muito até pensar que estava perdido, mas não havia qualquer desvio. A neve estalava num som característico debaixo dos meus pés e o vento levantava o ar frio que se depositava nas copas das árvores.
Por entre o castanho dos troncos finos das árvores começava a ver riscos de construções. E assim foi, passado o que pareceu uma eternidade cheguei. Obviamente não digo o que era e qual a localização porque isso não interessa. Mas a devastação que encontrei foi pior do que qualquer soco no estômago. Cheirava a combustível e produtos químicos há muito derramados sobre aquela terra, mas esse cheiro era bom comparado com o que me esperava.
Entrei no primeiro dos edifícios. Devia ser um pequeno complexo de escritórios da administração. Não interessava porque não sabia ler o que estava escrito nas paredes e muito menos o lixo que estava no chão que incluía livros e panfletos diversos. Encontrei todo o tipo de material informático, desactualizado claro e removido das suas almas numéricas. Encontrei a noção que muitas vezes não fica nada e encontrei o desespero de um povo que viveu de glórias que foram muito suas. Não sei que vos diga mas passei lá o que me pareceu uma eternidade porque não conseguia ver mais aquele desperdício de tudo. Quando percebi que não aguentava mais saí e dirigi-me para a estrada pela qual tinha vindo.
O mundo não era o mesmo e se o assobiar do vento e o uivo dos lobos ao longe me parecia triste, agora era frio. Gelava-me os pés e os ossos, a alma e fazia-me doer. Porque eu sabia que aquilo ia acabar por desaparecer e as memórias iam ser apagadas.
Quando cheguei ao portão não havia sinais do carro. Senti-me sem fôlego e perdido. Nem reparei nas horas porque afinal o tempo não tinha passado. Avancei uns 10 metros para fora da estrada e sentei-me agarrado a uma árvore. Passado pouco tempo o barulho de pneus a mastigar a neve ouviu-se e um foco de luz apareceu. Entrei e fui em silêncio até Moscovo. Fiquei em silêncio durante muito tempo depois de ter visto o que vi. Fiquei em silêncio tal como tudo aquilo que tinha deixado para trás.
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