quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Sobre a necessidade de viajar

No meu dia a dia de sonhador inveterado e na procura constante do desafio e do novo sinto, uma necessidade incessante de viajar, de mudar de ares e me apaixonar novamente.
Sou de paixões fortes e passageiras, daquelas olhadas com desdém pela maioria e por isso tenho tendência a procurar o refúgio da solidão, não por medo mas porque sei que  a melhor forma de ser feliz sem recurso a nada mais que a mim próprio.  A verdade é que quando somos intrinsecamente felizes, reparamos que nada mais alem de nos próprios e necessário para atingir essa tão própria felicidade humana.
Acrescento ainda o facto de quando na solidão somos felizes, percebe-se ainda que é única e exclusivamente connosco que podemos contar num futuro a médio, longo prazo, onde as responsabilidades serão maiores e onde apenas mais pessoas dependerão de nós.
Assim, viajo para ter a certeza da minha auto-suficiência, para ver o belo e novo, para me apaixonar e só qualquer consciência universal sabe as vezes que me apaixono desinteressadamente pelo mundo. Viajo ainda numa tentativa de me inspirar para criar, para desenhar algo novo, e enquanto que o objectivo não e atingido, conheço realidades distintas, vejo novos mundos, e aprendo. Acima de tudo aprendo,  porque no fundo queria tornar-me num contador de histórias como qualquer viajante conhecedor.
Viajo ainda numa tentativa de me manter jovem e desafiar as novas realidades distintas das actuais. Só assim, alem do estudo, aplicação e vontade nos podemos tornar melhores, mais completos, numa procura da evolução humana e pessoal. E enquanto me refugio na viagem distancio-me de tudo o que não considero valor acrescentado. Procuro ainda poupar cada vez mais tanto recursos materiais como a minha capacidade física para rodar o mundo, para fazer girar os hemisférios e o contador dos kms percorridos.
Viajo porque preciso.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Beleza

É na subjetividade pouco subjetiva da beleza que todos nós encontramos o prazer de olhar, o prazer de estar com e até mesmo a vontade. Digo subjetividade pouco subjetiva, porque essa é mesmo a realidade, pois somos atraídos por essa beleza como traças para uma luz, e qual é a traça que distingue a luz? Sim, porque somos todos iguais.
Acredito hoje que a beleza é a última expressão de poder, pois é nela que reside a vontade, o desejo e objetivo máximo da nossa senda aqui como mortais.
Quando falo de beleza não falo apenas de aspeto físico de homens ou mulheres, falo de música, de cinema e de arte sobre todas as formas de expressão. Embora ainda esteja longe de me considerar velho de forma autocrática, e ainda mais longe de o ser pela sociedade, aprecio hoje mais a beleza como se de um bom vinho estivesse a falar, eu que não sei provar vinho nem estou para aí direcionado.
Consideremos a música no seu expoente máximo de sexualidade e beleza. Subjetivamente avalio-a de bonita através da interseção de instrumentos de cordas, sobre qualquer género eletrificado ou não, instrumentos de sopro que seguem regras concretas de uma pauta ou apenas o coração e, vozes que nos tiram do sério e, por fim, uma mistura de percussão eletrónica ou puramente apaixonada. Chamemos-lhe jazz ou blues, pois para mim é o que me invoca para esta realidade. O que quero com isto dizer é que embora aprecie claramente o rock, o eletrónico, o samba ou qualquer outra subcultura ou tipo de música na sua máxima expressão, acabo sempre por me encontrar apaixonado pelo jazz, não sem devaneios claro, porque senão de que outra forma podia ser um apaixonado?
Com as mulheres observa-se exatamente o mesmo, todos temos um tipo, eletrónico ou acústico, bem ou mal disposto, mais ou menos alegre e devaneios, oh se temos! Mas aquilo que nos motiva na beleza é a classe pura do jazz, o groove a boa disposição do blues, sem nunca esquecer a simplicidade e austeridade do clássico. Este afastamento e aproximação, sem nunca tocar, sem dar demais de nós próprios, no lento cruzar de toda a informação é a pura beleza expressa na despreocupação e total independência do ser. Nada é belo se o humano o poder moldar e se não for última e totalmente independente.

É na capacidade inequívoca do blues de se transformar constantemente, seja através dos anos, seja dentro de cada faixa devido à irreverência das suas escalas e métricas que me apaixono constantemente, porque todos os dias espero encontrar algo diferente. Às vezes melhor, outras vezes pior, mas quando é melhor, vale tanto a pena.

sábado, 4 de outubro de 2014

Necessidade de escrever

Preciso de escrever. Preciso urgentemente de escrever e de me juntar a um mundo de que ando há muito tempo afastado e do qual tenho saudades. No bulldozer que se tornou a minha vida, anseio por recuperar as coisas boas que já tive e  tornar realidade aquilo que nunca tive.
Ficamos tão absorvidos no dia-a-dia, escusamos o amor e o carinho tão facilmente que resta apenas a aventura diária de nos conhecermos a nós próprios. Perdi-me na falta de cultura e na incapacidade de manter o standard que já tive. Tenho que recuperar a escrita, a leitura, o cinema e a música. Faltava-me a escrita. Vamos a isto!

domingo, 13 de abril de 2014

Simetria

É na tua simetria oblíqua que encontramos a virtude da existência e na tua melancolia triste e cansada que se encontra uma réstia de energia.
Inacreditavelmente, a tua presença pálida e ausente alegra-nos para lá do que é expectável.
Tendo por base a comunhão de experiências e companhia, percebemos que somos mais que ilhas isoladas e, por fim, é na saudade que este sentimento se concretiza. Exaustos de um mundo colorido e distante, a felicidade alcança-nos facilmente através da valorização da tua vulgar simetria.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Dzerzhinsk

Ninguém esperaria encontra naquela zona da cidade um espaço como aquele que presenciava com os seus próprios olhos. Após vaguear quilómetros no meio de uma velha zona industrial, onde grande parte dos edifícios fabris se encontravam abandonados e decrépitos, onde as próprias naves eram esqueletos de tempos passados sem uma volta provável, entregues a uma biologia caótica de crescimento orgânico, que escondia muito bem qualquer bonomia e ainda melhor a porta 21. Esta porta metálica vermelha e desgastada daria acesso a um novo mundo fechado até então e onde centenas de pessoas estariam reunidas, pessoas pouco comuns, especiais, vestidas de uma forma aparentemente estranha mas só e apenas para quem não conhecesse o espaço, para quem não vibrasse na mesma sintonia que aquela velha nave, onde a aparente calma era desflorada pelos sons graves, profundamente baixos, que abalavam os pilares da própria existência. Eclético, o espaço albergava tantos homens como mulheres sendo que as suas idades rondavam números superiores àquele momento em que deixámos de chamar jovem a um jovem. Grande parte daquelas centenas de pessoas encontravam-se distribuídas em mesas circulares perfeitamente simétrica e equidistantes.