segunda-feira, 25 de junho de 2012

Voyeurismo Emocional

Desde que me reconheço sempre fui um alternativo, um esquisito, o último a ser escolhido para grande parte dos jogos que envolvessem qualquer capacitação física especial, jeito ou técnica. Por isso, e se calhar para bem do meu ser, tentei tornar-me guarda-redes, ou seja, passei a ser o primeiro escolhido porque mais ninguém queria ir, uma espécie de "outsider" do qual estou perfeitamente ciente.
Resignei-me à leitura, música e pintura, sobre o qual nada sei, mas tendo em conta que a minha geração faz um rotura com o passado devido ao acesso à cultura que se tornou fácil e imediato, ou trocando por miúdos, sabem tanto como eu na sua maioria, até me consegui enquadrar na sociedade que me rodeia, e de vez em quando, muito de vez em quando consigo ter uma conversa inteligente sobre temas interessantes. Sim, porque uma conversa pode ser inteligente mas totalmente desinteressante, como por exemplo estatística ou análise matemática.
Assim, e tendo em conta que está muito na moda o futebol devido ao Euro, a minha vida resume-se a ser guarda redes, alguém que é um voyeurista do jogo, algúem que vê tudo o que se passa ali no meio mas que não participa diretamente. A vida passa-me à frente dos olhos e saboreio-a em cada sorriso ou choro do meu igual, porque não sinto, uma incapacidade criada pela dificuldade em perceber o porquê de tentar enquadrar-me e parecer igual, mas, há que ser pragmático e a verdade é que não sou diferente, sou igual, exatamente igual aos outros 6 biliões, se calhar pareço é diferente porque tenho uma tendência para me isolar e alhear do sofrimento ou felicidade alheia. E é desta igualdade que bebo as emoções, por saber que tudo aquilo que se vejo pode ser meu ou de outro alguém de quem nem sei o nome.
Olho e vejo, pareço inteligente no meu silêncio contemplador, no entanto sou mesquinho, olho para o que fazem e crítico-os com os meus botões, olho para o que fazem e invejo-os, ou então desejo escrever vangloriando o feito dessa pessoa, ajoelhando-me perante ação tão importante.
A minha vida é uma montanha russa emocional, onde eu sou o controlador da casa das máquinas, um voyeurista emocional que pode pautar a velocidade do que é seu, alguém que tem uma palavra a dizer sobre o decorrer do jogo como o guarda redes e que pode decidir em situações importantes, mas que não passa disso mesmo, alguém que pode decidir, mas que pode muito bem ser trucidado, atropelado por aquilo que o rodeia se não tiver cuidado.
Resumindo, devo muito àqueles que me rodeiam e sou feliz pela felicidade alheia, sofrendo também com o sofrimento estranho, ou seja, sou um ser humano exatamente igual a tantos outros.

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