sábado, 31 de março de 2012

Temas monocórdicos


Os temas monocórdicos de que, geralmente, grande parte das conversas são alvo, são tão doces como um bolo de chocolate negro mergulhado numa boa dose de compota de framboesa. Podem servir para matar a fome do contacto e relação humana, no entanto, quem vive deles está sujeito a uma prolongada ruína intelectual, que pode ser expressa na gordura e consequentes problemas dietéticos inerentes ao consumo de um bolo extremamente calórico, isto se a rebuscada analogia ainda fizer sentido.
A verdade é que a estas horas da noite, nada mais apetece que não seja dormir e descansar depois de um dia de trabalho, quanto mais estar a ter uma conversa interessantíssima e complexa sobre as mastigadas notícias da economia portuguesa (deglutidas, amassadas e expelidas em alguns casos como a vida do Sr. Ministro Miguel Relvas). Repare-se no entanto, que dormir e descansar são dois verbos diferentes, que poderiam estar fortemente relacionados através das atividades que explicitam, não fosse a atual sociedade capaz de criar um fosso tão grande entre ambas. A verdade é que hoje muita gente tem medo de dormir porque precisa de descansar dos pensamentos e preocupações que lhes assaltam a mente mal pousam a cabeça irrequieta nas almofadas agitadas e, outros, por sua vez, têm medo de acordar para a triste realidade que os espera.
O que quero dizer, é que acho tão interessante uma conversa de elevador sobre o quão bom está o tempo, ou um discurso filosófico sobre a diluição da natureza do ser devido à perda de uma matriz católica. Talvez até possa admitir que não adoro temas pesados sem ser etiquetado, rotulado desculpem, como leviano ou desinteressante. No fundo acho que não é particularmente importante falar desde que seja com um objetivo definido. Não está no meu ser falar sem um sentido ou só para aliviar o ambiente porque se fosse assim tão fácil os políticos não falariam que seria a solução para o conflito israelo-palestiniano. Sim, porque os políticos nunca dão uma solução fácil para um problema que é complicado e já agora, reparam como ficam os bem estes dois povos juntinhos. Separados pelo hífen, mas juntinhos.
Não fui claro, mas o objetivo é criar uma aura de misticismo em torno das minhas palavras que no futuro podem ser interpretadas como grande fonte de conhecimento. Criar um determinado valor que só após a minha morte será observado para grande infelicidade minha. Aproveitei também para expelir de mim todos os temas monocordicamente desinteressantes já que estava aqui. Reparem que dei umas pinceladas de política aqui no meio, cozinha avant-garde, um cheirinho de psicologia e ainda dei a minha opinião sobre um dos flagelos do médio oriente, não os conflitos sobre a posse da Terra Santa, mas a falta de sono provocada pelas melgas que naquele calor certamente zumbem sobre os telhados dos gabinetes ministeriais como mísseis (mas sem os importunar, as melgas chupam sangue).

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